José Ramos Horta
"Brasileiros,
colombianos e venezuelanos, façam mais para evitar a saída da droga da América
do Sul."
O pedido é do ex-presidente do Timor-Leste e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em
1996 José Ramos-Horta, representante nomeado das Nações Unidas em Guiné-Bissau.
O país africano é rota de passagem de cocaína para a Europa.
"Os nossos
irmãos africanos, sobretudo da África Ocidental, sempre aparecem mal na fita
quando, na realidade, nenhum país africano produz droga. Isto é produzido na
América Latina. Em nenhum país africano há grande consumo de droga.
Consumidores há na América do Norte e na Europa", ponderou.
Para
José Ramos-Horta, o problema de drogas na Guiné-Bissau seria resolvido se "os nossos irmãos da América Latina
fizessem maiores esforços para controlar a produção da droga, e os nossos
irmãos europeus fossem mais eficazes em controlar suas fronteiras",
disse nesta segunda-feira ao sair de reunião na sede da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa.
Na
última década, Guiné-Bissau passou a ser utilizada como rota de narcotráfico
para a Europa, crime que, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime (Unodc), tem sido mais rentável que os Estados Unidos, em especial no
caso da droga produzida na Colômbia e na Venezuela.
O
relatório do Unodc de 2012 aponta para o trânsito de drogas entre países
falantes da língua portuguesa. "Uma
parte da cocaína enviada para o Brasil é contrabandeada para a África
(sobretudo o oeste e o sul da África), tendo a Europa como destino final. Por
causa de afinidades linguísticas com o Brasil e alguns países africanos,
Portugal emergiu como área significativa para o trânsito de cocaína",
descreve o documento.
O
tráfico de drogas se aproveita da extrema pobreza de Guiné-Bissau, herdada do
período de colonização portuguesa, iniciada antes do descobrimento do Brasil.
Há o problema da fragilidade das instituições de Estado de direito, marcadas
por movimentos recorrentes de golpes de Estado - em quase 40 anos, nenhum
presidente eleito chegou ao fim do mandato. Em abril do ano passado, militares
atacaram a residência do então primeiro-ministro e principal candidato às
eleições presidenciais de Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior.
Os
militares têm a hegemonia política do país desde a independência. Ramos-Horta
promete procurá-los e também outros setores para dialogar. "Serei muito ativo no diálogo, no ouvir as pessoas. Serei ativo
sem ser intervencionista", disse, seguindo a orientação da ONU e
afinado com a CPLP, que não reconhece o governo de transição instalado no país
desde abril do ano passado.
Ramos-Horta
muda-se na segunda semana de fevereiro para Bissau, capital de Guiné-Bissau.
Uma das metas das Nações Unidas é que o país se pacifique internamente e
promova novas eleições. "As
eleições não são um fim em si, mas um instrumento de escuta da sociedade. Para
além do ato eleitoral, tem que haver um processo de diálogo e de organização
das eleições para que o resultado venha a ser aceito sem qualquer
questionamento", disse, sem prever quando os guineenses voltarão a ter
eleições.
Em
recente reunião no Uruguai dos 23 países que integram a Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas), o Brasil se posicionou em favor do
diálogo interno na Guiné-Bissau para dirimir conflitos. O Brasil tem grande
interesse na normalização da vida política em Guiné-Bissau por causa da
participação do país na CPLP, importante acesso do Brasil à África.
Fonte: Terra Brasil
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