Debate na Comissão de Direitos
Humanos apontou a necessidade de acompanhar a evolução do vírus e de apoiar
crianças órfãs ou abandonadas por medo do contágio
A cooperação internacional e a ajuda humanitária
têm que ser reforçadas para garantir o controle da nova onda epidemiológica do
vírus ebola na África, concordaram debatedores que participaram ontem de
audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado. Eles
manifestaram preocupação com o aumento dos casos de abandono de órfãos e de
crianças desacompanhadas por suspeita de infecção pelo vírus.
De acordo com os dados mais recentes
da Organização Mundial da Saúde (OMS), a epidemia provocou cerca 8 mil mortes
entre os mais de 18 mil casos registrados desde o início do ano em oito países.
Entre eles, Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa são os mais atingidos. Ao menos
5 mil crianças desses países perderam um ou ambos os pais por causa do vírus,
segundo estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
— Dados que recebemos mostram que
pais e mães afetados pela doença acabam morrendo e crianças ficam praticamente
abandonadas. É preciso que haja, além da procura dos parentes, solidariedade
internacional. Queremos que o Brasil se some cada vez mais aos outros países
nessa cruzada internacional em defesa da vida — disse o senador Paulo Paim
(PT-RS), que presidiu a reunião. O debate promovido pela CDH atendeu pedidos
dos senadores Paim e Eduardo Suplicy (PT-SP).
Situação crítica
Vizinha de Guiné-Conacri e Senegal, a
Guiné-Bissau não registrou nenhum caso da doença, mas, segundo a embaixadora no
Brasil, Eugénia Pereira Saldanha Araújo, o país tem se mantido vigilante com
relação ao surto. Ela também está preocupada com a situação das crianças
abandonadas e afirmou que não apenas os países africanos, mas todo o mundo
deveria ajudá-las.
— Acho que as pessoas ficaram com
medo do contágio e têm agido com muitas precauções em relação a essas crianças.
É conveniente que a opinião pública internacional se mobilize para termos uma
resposta para essas crianças, que precisam de um apoio, não só material, mas
afetivo. Do contrário, vai ser muito complicado garantir o futuro dessa geração
— apontou.
Desde que o surto ganhou repercussão
mundial, o Ministério da Saúde reforçou o monitoramento de viajantes vindos de
países da África Ocidental afetados pelo ebola, relatou Cláudio Maierovitch, do
Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da pasta. Segundo ele,
são muito pequenas as chances de o vírus chegar ao país.
Conforme Maierovitch, o Brasil está
preparado para enfrentar o vírus e tem apoiado os países afetados. O governo
doou R$ 25 milhões a agências das Nações Unidas para ações humanitárias.
— Todas as medidas tomadas dão
segurança bastante razoável do ponto de vista doméstico. No entanto, a nossa
preocupação é também com a solidariedade internacional — acrescentou.
Para o representante do Ministério da
Saúde, a epidemia poderia não ter se tornado realidade caso os países ricos
tivessem investido em pesquisas e desenvolvimento de medicamentos e vacinas.
— Era uma doença considerada exótica,
de populações pobres e isoladas, que pouco ameaçava os países centrais —
assinalou.
Apoio internacional
Indranil Chakrabarti, do Ministério
para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, também defendeu maior
apoio internacional aos países africanos.
— Esse não é um desafio apenas para
Guiné, para Serra Leoa, para a África Ocidental, mas para o mundo inteiro. A
crise não passou ainda. Essas infecções estão aumentando, por isso a resposta
internacional tem que aumentar — afirmou.
Identificado pela primeira vez em
1976, no Zaire (atual República Democrática do Congo), o vírus ebola tem
produzido, desde então, vários surtos no continente africano.
A doença do vírus ebola conta com uma
taxa de letalidade que pode chegar até a 90% e afeta os seres humanos e
primatas não humanos (macacos, gorilas e chimpanzés). A infecção ocorre por
contato direto com o sangue ou outros fluidos corporais ou secreções.
Fonte:http://www12.senado.gov.br/
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