Foto família na Câmara dos Deputados (ao centro Embaixadora Eugénia Saldanha)
Em
homenagem à consciência negra, deputados defendem cotas
O
Plenário da Câmara dos Deputados recebeu nesta quarta-feira (20), Dia da
Consciência Negra, a visita de representantes de sete países africanos: Guiné Bissau, Angola, Burkina Faso,
Burundi, Costa do Marfim, Malaui e Zimbábue.
Na
ocasião, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, destacou que o
movimento negro contemporâneo adquiriu mobilização e seriedade determinantes
para que o país revisse o papel do negro na construção do país e tomasse
medidas para reparar a dívida histórica da escravidão.
“A
reboque do movimento negro contemporâneo, surgiram iniciativas de grande
alcance, como a demarcação de terras quilombolas e as cotas para negros nas
universidades, possibilitando a reparação por séculos de discriminação e
ausência de oportunidades”,
disse o presidente.
Cotas
no serviço público
Alves
destacou ainda a lei que obriga o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
no ensino fundamental e médio e o projeto que institui cotas para negros no
serviço público, enviado ao Congresso pelo Executivo. “É um item prioritário que vamos
votar assim que destrancar a pauta”, disse o presidente.
A
deputada Benedita da Silva (PT-RJ) defendeu as cotas no serviço público. “Não
estamos defendendo um segmento. Essa não é uma causa do negro, é uma causa
brasileira, e queremos contar com o apoio de todos”, afirmou.
Para
a deputada Iara Bernardi (PT-SP), as cotas no serviço público vão corrigir a
dívida que o país tem com os negros. “Houve libertação, mas não houve o
acompanhamento de práticas para dar cidadania a esses cidadãos”, disse.
História
africana
O
Plenário da Câmara também celebrou os dez anos da lei que obriga o ensino de
história africana nas escolas, tema do pronunciamento da embaixadora do Guiné
Bissau Eugénia Pereira Saldanha.
A
embaixadora citou estudo de duas professoras do Mato Grosso segundo o qual a
lei rompe décadas de silêncio e insere, nas escolas, a temática da
discriminação racial e suas sutilezas. “A lei contribui não apenas para as relações
étnico-raciais no Brasil, mas para um novo olhar sobre a África”,
disse.
Fonte:
Agencias
A S.E. Embaixadora Eugénia Saldanha foi escolhida entre os pares (diplomatas) para discursar nesta cerimônia, segue em baixo o discurso na integra.
Discurso da Embaixadora
Eugénia Saldanha na Câmara dos Deputados
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos
Deputados:
Deputado Henrique Eduardo Alves
Digníssimos Deputados
Caríssimos colegas Embaixadores e Representantes
de Corpo Diplomático aqui presente;
Minhas Senhoras e Meus senhores.
Gostaria em primeiro lugar em nome dos Embaixadores africanos acreditados no Brasil e em meu nome próprio, saudar e parabenizar a todas as
autoridades brasileiras presentes nesta celebração do dia de CONSCIÊNCIA NEGRA e
dos dez anos da LEI Nº 10.639/2003, que
instituiu a obrigatoriedade do ENSINO DA HISTORIA E DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA,
NAS ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE TODOS OS ESTADOS BRASILEIROS.
É com imensa honra que recebi o convite dos meus ilustres colegas
EMBAIXADORES AFRICANOS, para proferir da palavra, nesta magna casa da
Democracia Brasileira e para dar maior significado a esta escolha, tomo se me
permitem a liberdade de tecer algumas considerações, respeitante a importância do
conhecimento desta legislação para a desmistificação do Continente Africano.
Hoje
o Brasil é uma grande referência para o mundo, especialmente para os Países
Africanos o Brasil nos inspira pela TECNOLOGIA SOCIAL que de forma efetiva e
eficiente vem implementando, modelo impar de combate à pobreza e das
assimetrias sociais e pelos resultados obtidos
nestas duas décadas.
A lei 10369/2003 reconhece, acredita e investe na força da
diversidade de um povo, e foi provavelmente a maior lição que Vossas
Excelências digníssimos deputados e
o Presidente Luis Inácio (Lula) da Silva, ao
promulgar a Lei deixaram para o Povo brasileiro, para nós os africanos e por que não dizer, para o Mundo
contemporâneo.
Todos sabem que muitos de nós em África, ainda estamos num
processo de construção de Estados Democráticos e de plenos Direitos. Congratulamo-nos
ao ver o Brasil celebrar este ano, o 25º aniversário da Constituição da
República, que repôs a Democracia, ou seja, o ato político que fez com que o país se, reencontra-se consigo
mesmo. Uma prática política, onde todos expressam livremente suas opiniões e
suas idéias.
Porém,
enquanto representante de um dos países africanos, que ainda não se reencontrou
consigo mesmo, contamos e esperamos que o Brasil saiba, partilhar esta
“Tecnologia Política” com os nossos países, respeitando como é obvio, a
soberania de cada Estado. Sem entrar em pormenores das relações entre nós os
lusófonos, permitam apenas que cite a Presidenta Dilma no seu discurso
proferido na última Assembléia das Nações Unidas ao dizer que; cito "Sem respeito à soberania, não há base
para o relacionamento entre as Nações." fim de citação.
SENHORES DEPUTADOS, ILUSTRE
CONVIDADOS
Acreditem
e tenham certeza de que, a implantação da Lei 10.639/2003 que garantiu o ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares, não só foi um
contributo para a educação das relações étnico-raciais no Brasil, como também
proporcionará a formação para um novo olhar sobre África, Continente que hoje
conta com 54 países. Volvidos dez anos da sua implementação e segundo algumas
fontes, esta Lei apresenta alguns aspetos extremamente positivos, demonstrando
que valeu a pena a sua criação.
Não se pode contestar a forte matriz africana na
cultura brasileira. A influência negra esteve, está e estará sempre presente em diferentes esferas da criação e do
conhecimento desta sociedade e, está também à vista desarmada, na maior parte das
manifestações culturais e sociais deste país, embora como todos sabemos, tenha trilhado por
caminhos sinuosos em que, várias marcas são latentes na memória genética
coletiva. Por exemplo, com base nos antecedentes histórico, causado pela colonização
portuguesa, a Guiné-Bissau e o Brasil partilham a mesma matriz cultural, reforçado
pela imigração forçada e imposta pelo tráfico
negreiro, originando múltiplas identidades, que acabaram por ser, a grande
riqueza dos nossos Estados.
SENHORES
DEPUTADOS
MINHAS
SENHORAS E MEUS SENHORES
Durante
a pesquisa sobre essa lei gostei, de um estudo realizado por duas professoras da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
que diz: “cito”
“A Lei
Nº 10.639/03, rompe com décadas de silêncio, insere na agenda
didático-pedagógica brasileira a temática das relações étnico-raciais,
estimulando um olhar internalizado mais atento sobre a discriminação racial e
suas sutilezas, com vista à superação do racismo no espaço educacional.
Trazer a história e a cultura
africana para sala de aula tornou-se um compromisso a solver premente, pois é
preciso apresentar uma cultura negra
africana que se fez transnacional, que passou a operar em uma manifestação
cultural de todo o povo brasileiro, identificada nas palavras, em gestos, ritos
e rituais, que se apresenta nos tipos de roupas, danças, músicas e também nas
ciências, tecnologias, filosofia...”
fim de citação.
SENHOR PRESIDENTE;
Pela
escassez de tempo, permitam-me que antes de terminar agradeça a confiança depositada
em mim pelos meus colegas Embaixadores Africanos acreditados no Brasil e,
agradeço a vossa estimável atenção, e nada melhor para terminar, do que esta estrofe tirada do poema “O operário em Construção” de Vinicius
de Morais, um dos maiores vultos da cultura brasileira:
“Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.”
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.”
Muito Obrigado, mais uma vez pela vossa atenção!
Nenhum comentário:
Postar um comentário